Por Marcos Linhares
para o
Observatório da ImprensaAs imagens falam muito, contudo a cobertura da dita grande mídia impressa do Distrito Federal sobre o governador José Roberto Arruda recebendo "mesada" e deliberando sobre a "compra" de parlamentares, em troca de apoio, que desencadeou a operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, tem sido decepcionante. O Correio Braziliense, por exemplo, chegou ao disparate de na capa da edição de domingo (29/11) não citar os nomes dos envolvidos. Limitou-se a dizer que "entre os investigados estão secretários de Estado, empresários e distritais". Depois, ainda insistiu: "Ontem, todos os secretários e servidores do GDF citados na operação foram afastados do cargo".
O denunciante, o então secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, tem ficha policial extensa e mesmo assim, ocupava lugar de destaque no governo. Agora, é claro, estão tentando descredenciá-lo e usando a mídia impressa para a missão.
Causa repulsa tamanha omissão. Afinal, estão sonegando informações aos seus leitores. O Jornal de Brasília parece também ter trilhado caminho parecido. Quem quisesse dispor de informações mais apuradas teve que valer-se de blogs ou de veículos de outros estados com sucursais em Brasília, como Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo, Zero Hora, UOL, Terra e o Último Segundo, do iG.
E isso já vem acontecendo há algum tempo. Houve dia em que a capa do Correio Braziliense era o governador Arruda, dentro de um helicóptero, mostrando as obras que estava fazendo... Sem palavras. A "compra" sistemática da cobertura midiática vem sendo feita de modo avassalador. Nos episódios recentes, Arruda comprou 7.562 assinaturas do Correio Braziliense para 199 escolas da rede pública (16% da tiragem média do veículo). Não satisfeito, destinou verba para comprar assinaturas da revista Veja (coincidentemente ele saiu nas "Páginas Amarelas" daquele veículo em grande estilo, posando de "estadista"). Em ambos os casos, há indícios de que os recursos tenham saído do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
Campanhas difamatóriasO denunciante do chamado "mensalinho de Brasília", Durval Barbosa teria dito à Polícia Federal que tão logo acabaram as eleições 2006 o novo governador Arruda iniciou uma perseguição para ficar sem compromissos com ele, que havia sido franco arrecadador de recursos para a campanha vitoriosa.
Barbosa teria alegado em seu depoimento que na residência do dono de uma construtora famosa em Brasília, José Gontijo, Arruda iniciara uma campanha contra ele. Quem estaria nesse almoço? Gontijo, Arruda e... o presidente do Correio Braziliense, Álvaro Teixeira da Costa.
Costa, segundo o depoimento de Barbosa, teria começado então uma campanha usando o jornal para "queimar" (o que não seria difícil) a imagem do denunciante. Teria sido destacada, inclusive, uma repórter para tal "tarefa".
O denunciante, como era bem informado e não tinha nem tem nada de bobo, descobriu a manobra e tratou logo de aproximar-se de Arruda e juntar-se a ele. Virou secretário de Relações Institucionais. Mas, fica a pergunta: que relação supostamente promíscua é essa que chega a usar repórteres para campanhas difamatórias? Ataques a Arruda no Correio são raros, quando não inexistentes. As denúncias, normalmente, parecem se voltar contra os denunciantes. Perdemos todos. Falta fazer uma CPI da mídia do DF.
Talão de chequesFalei com colegas revoltados. Temendo perder empregos, calam-se e seguem a matilha. Parece que a forma que o Correio Braziliense achou para domesticar os descontentes foi executar uma exótica reforma de posições nas redações para colocar para fora antigos e prestigiados profissionais. A estratégia foi simples: peguem os especialistas e troquem-nos de área. Por exemplo, peguem Mister M, da editoria de Política e coloquem-na para cobrir Esportes. Ou peguem um especialista em Esportes e coloquem-no para cobrir qualquer coisa, sei lá, bota aí, caderno infantil, ou fazer a parte de passatempos. Enfim, vamos trocar as posições. Para que manter esse especialista em educação aqui? Vamos mandá-lo fazer matérias de denúncias, no caderno Cidades. Quem não se adaptar, que caia fora.
E assim vivemos em Brasília. Com uma mídia cada vez mais dependente e atrás de furo$. Pois, pelo visto, se assim não for, outros furos virão, possivelmente no orçamento, nas contas bancárias, nas contas que teimosamente voltarão a chegar todos os meses. Triste sina...